A higiene na era medieval era drasticamente diferente dos padrões modernos. A prática de tomar banho regularmente era considerada incomum e, em muitas regiões, até mesmo desnecessária. Naquela época, havia uma crença amplamente difundida de que a água quente abria os poros da pele, o que poderia permitir que doenças entrassem no corpo. Como resultado, muitos acreditavam que banhar-se frequentemente fazia mais mal do que bem.
Além disso, o acesso à água limpa era limitado. Em muitas cidades medievais, a água potável era difícil de obter, e a água disponível era frequentemente contaminada por resíduos humanos e de animais. Isso contribuía ainda mais para a relutância em tomar banhos regulares. A prática de banhar-se era, portanto, muitas vezes substituída por métodos alternativos de limpeza, como esfregar o corpo com panos úmidos ou ervas aromáticas.
Os banhos eram eventos sociais para a elite, realizados em banhos públicos ou em grandes banheiras de madeira nas casas dos ricos. No entanto, mesmo esses banhos eram raros e mais comuns em certas épocas do ano, como antes de ocasiões especiais. Para a maioria das pessoas comuns, a ideia de tomar banho frequentemente era uma prática distante da realidade cotidiana.
Na vida rural, o contato constante com a terra, animais e trabalho físico significava que a sujeira era parte da vida diária. As pessoas aceitavam o cheiro corporal como algo natural, e a higiene pessoal era frequentemente limitada à lavagem do rosto, mãos e pés em água fria, muitas vezes tirada diretamente de um rio ou poço.
A falta de higiene e a ausência de práticas de banho regular na era medieval contribuíram significativamente para a proliferação de várias doenças. Sem medidas adequadas de limpeza, as pessoas eram mais suscetíveis a infecções de pele e parasitas, como piolhos, pulgas e carrapatos. Estas condições eram agravadas pelas roupas feitas de materiais que raramente eram lavados, acumulando sujeira e fungos.
A lepra, por exemplo, era uma das doenças mais temidas da época, causada por uma bactéria que prosperava em ambientes insalubres. A doença resultava em lesões cutâneas graves, deformidades e, em muitos casos, o isolamento social dos afetados. Embora a lepra fosse mais comumente associada a regiões mais quentes, a falta de higiene em geral facilitava sua disseminação.
Além da lepra, a peste negra, ou peste bubônica, foi uma das pandemias mais devastadoras da história da humanidade, dizimando aproximadamente um terço da população europeia no século XIV. A peste era transmitida por pulgas que infestavam ratos, comuns em áreas densamente povoadas e mal higienizadas. As condições de vida apertadas, combinadas com a falta de saneamento e higiene, criaram um ambiente perfeito para a propagação rápida da doença.
Outras doenças comuns incluíam a sarna, uma infestação de ácaros na pele, e o tifo, transmitido por piolhos. Ambas as doenças prosperavam em condições de pobreza e falta de higiene, especialmente em tempos de guerra, quando as condições de vida eram ainda mais precárias.
A higiene dental também era praticamente inexistente, resultando em uma alta incidência de cáries, gengivites e perda de dentes. A falta de cuidados bucais e o consumo de alimentos ricos em açúcar, como frutas secas e pão, contribuiu para problemas dentários que muitas vezes levavam a infecções graves e, em alguns casos, à morte.
Diante da falta de banhos e práticas de higiene regulares, as pessoas na era medieval desenvolviam diferentes métodos para disfarçar o cheiro corporal. Entre os nobres e os mais ricos, o uso de perfumes e essências era uma prática comum. Estas fragrâncias eram feitas a partir de flores, ervas e especiarias, como rosas, lavanda, alecrim e canela. O uso de águas perfumadas era uma maneira de manter uma aparência de limpeza, mesmo que o corpo em si não fosse regularmente lavado.
Além dos perfumes, as roupas também eram frequentemente perfumadas. Nobres costumavam impregnar suas vestes com essências aromáticas ou costurar pequenas bolsas de ervas nas dobras das roupas. Estas bolsas, conhecidas como pomanders, continham misturas de ervas como sálvia, tomilho e cravo, que ajudavam a mascarar odores desagradáveis e a proteger contra doenças, de acordo com as crenças da época.
Para aqueles que não tinham acesso a perfumes caros, existiam métodos mais simples. O uso de ervas e flores frescas, como hortelã e camomila, era comum entre as classes mais baixas. Essas plantas eram esfregadas na pele ou carregadas em pequenos sacos para mascarar odores. Em ambientes fechados, como casas ou igrejas, a queima de incenso ou ervas aromáticas ajudava a melhorar o cheiro do ambiente e a criar uma atmosfera mais agradável.
O ato de fumar, que começou a ganhar popularidade no final da Idade Média, também se tornou uma maneira de mascarar o mau cheiro. Embora o tabaco só tenha chegado à Europa após a descoberta das Américas, a prática de queimar ervas aromáticas como o tabaco ou outras plantas também era uma forma de disfarçar odores corporais ou ambientes desagradáveis.
A higiene dos ambientes também desempenhava um papel importante. As ruas das cidades medievais eram frequentemente sujas, com lixo e esgoto correndo livremente. Para combater os odores, era comum que as pessoas espalhassem palha ou ervas no chão de suas casas ou até mesmo nas ruas, na tentativa de absorver os cheiros desagradáveis. Na ausência de práticas de higiene modernas, essas medidas rudimentares eram o que estava ao alcance das pessoas para lidar com os desafios diários de uma era sem saneamento básico.
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